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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A ALMA de Voltarie



Alma

É um termo vago, indeterminado, que expressa um princípio desconhecido, porém
de efeitos conhecidos que sentimos em nós mesmos. A palavra alma corresponde
à animu dos latinos, à palavra que usam todas as nações para expressar o que
não compreendem mais que nós. No sentido próprio e literal do latim e das línguas
que dele derivam, significa “ o que anima”. Por isso se diz: A alma dos homens,
dos animais e das plantas, para significar seu princípio de vegetação e de vida.
Ao pronunciar esta palavra, só nos dá uma idéia confusa, como quando se diz no
Gênesis: «Deus soprou no rosto do homem um sopro de vida, e se converteu em
alma vivente, a alma dos animais está no sangue, não mateis, pois, sua alma.»

De modo que a alma – em sentido geral– se toma pela origem e causa da vida,
pela vida mesma. Por isto as nações antigas acreditaram durante muito tempo que
tudo morria ao morrer o corpo. Ainda é difícil desentranhar a verdade no caso das
histórias remotas, há probabilidade que os egípcios tenham sido os primeiros que
distinguiram a inteligência e a alma, e os gregos aprenderam com eles a distinção.
Os latinos, seguindo o exemplo dos gregos, distinguiram animus e anima; e nós
distinguimos também alma e inteligência. Porém o que constitui o princípio de
nossa vida, constitui o princípio de nossos pensamentos? São duas coisas
diferentes, ou formam um mesmo princípio? O que nos faz digerir, o que nos
produz sensações e nos dá memória, se parece ao que é causa nos animais da
digestão, das sensações e da memória?

Há aqui o eterno objeto das disputas dos homens. Digo eterno objeto, porque
carecendo da noção primitiva que nos guie neste exame, teremos que permanecer
sempre encerrados num labirinto de dúvidas e de conjeturas.
texto escrito por Voltaire

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